Para quem não apareceu e para quem quer relembrar, segue a cobertura do evento.
(Adolfo Santos Sonteria)
Ciclo de palestras marca
culminância do primeiro ano do projeto Capoeira no CAC
por Jaqueline Fraga
Entre
os dias 14 e 17 de outubro, o projeto de extensão da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), “Capoeira no CAC”, realizou o Ciclo de Palestras da
Capoeira, evento que marcou o encerramento das ações desenvolvidas durante os
10 meses de atividade.
De
julho de 2013 a
abril de 2014, a
professora Gabriela Santana, coordenadora do projeto, organizou mensalmente, e
em conjunto com a equipe de discentes envolvidos na atividade de extensão,
rodas de capoeira Angola e debates com mestres e professores atuantes nas
cidades de Recife e Olinda.
A
ação de culminância, segundo a professora, é uma oportunidade de promover o
levantamento de estudos e pesquisas que privilegiam a capoeira como importante
fonte de conhecimento. “Durante os debates, foi possível discutir, de modo mais
amplo, o desenvolvimento e os aspectos artísticos, educativos, políticos,
sociais e históricos da capoeira pernambucana”, destacou.
Para
a abertura do evento, foi promovida uma roda de capoeira no hall do Centro de
Artes e Comunicação (CAC) da UFPE, que contou com a participação dos mestres:
Júnior (Grupo de Capoeira Nação Recife- PE), Mago (Centro de Capoeira São
Salomão- PE) e Joab (Grupo Mocambo -PE) e dos professores Zoinho – Everaldo
Ferreira (Centro Esportivo de Capoeira Angola – Academia de João Pequeno de
Pastinha/BA) e Caica (Herança de Angola- PE), além de capoeiristas experientes
e de diversos grupos que ali estavam para celebrar o evento.
Autoridades
no universo da capoeira, os mestres e professores elogiaram a iniciativa do
projeto Capoeira no CAC. “A professora Gabriela está desenvolvendo um trabalho
sério, que vem contribuir para a capoeiragem. Estou aqui para ensinar e
aprender”, ressaltou o professor Zoinho, que está na capoeira há
aproximadamente 26 anos. O professor falou, ainda, sobre a interação com
ambiente universitário: “A capoeira não está saindo do povo. Esse projeto vem
para unir, sem descaracterizar”.
O
mestre Júnior, que possui 35 anos na arte da capoeira partilha do mesmo
pensamento. “É uma iniciativa ímpar. Está imbuída nas raízes e vem somar,
trazendo o novo. Que bom que existem pessoas com esse pensamento”, avaliou.
A
avaliação também é positiva pelos alunos da Universidade. Estudante de
Geografia, Pedro João, de 26 anos, considera valiosa a promoção dessa atividade
de extensão. “Acho bacana chegar aos centros e presenciar esses eventos”,
contou.
Após
a roda de abertura, foi realizada a palestra “Arte na Capoeira”, ministrada
pelo pelo Coreógrafo e professor da Compassos Cia de Dança, Raimundo Branco,
também reconhecido pela comunidade capoeirística como Mestre Branco de
Aruanda.
No
segundo dia, foi realizado, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), o debate “O
corpo, a tradição e a Capoeira”, que teve como debatedores o professor Zoinho e
professor Dr. da UFPE, Henrique Khol. Além disso, houve a exibição do
documentário “Artes da capoeira”, dirigido por Josias Neto.
O
terceiro dia do evento foi marcado por debates que envolviam a concepção da
capoeira em ambientes educacionais formais e informais, como escolas e
universidades, e também sua influência na educação de crianças e jovens que
participam de grupos e projetos que tem a capoeira como atividade principal.
Durantes a palestra “A Educação na Capoeira”, ministrada no Centro de Educação
(CE), a contramestra Bel Cordeiro e o professor Bruno Santana apresentaram suas
experiências como acadêmicos e capoeiristas. Ao final, foi exibido o filme
“Versos e Cacetes” com direção e roteiro do professor Matthias Assunção
(University of Essex), que esteve presente no evento, e de Hebe Mattos.
Dois
capoeiristas que estiveram presentes todos os dias do evento destacaram a
relevância do Ciclo de Palestras. Lindinaldo do Espírito Santo, 34, ressaltou
que é importante essa promoção de diálogos: “O debate é bom porque vai sendo
transmitido para um número maior de capoeirista”, disse. A junção da
universidade com a capoeira foi elogiada por Fábio Soares, 37. “Essa mistura é
necessária. Tem que abrir cada vez mais as portas da universidade”,
avaliou.
Encerrando
o Ciclo de Palestras da Capoeira, foi promovido na quinta-feira (17), o debate
“Histórias e Estórias da Capoeira”, com o professor Caica e Mônica Beltrão, e
discutida a pesquisa “Raízes Angolanas
da Capoeira”, realizada no sul da África, pelo professor Matthias
Assunção. O encerramento aconteceu no Centro de Filosofia e Ciências Humanas
(CFCH).
Em
maio deste ano e com o apoio da Pró-reitoria de Extensão, tem início a segunda
edição do projeto Capoeira no CAC, que seguirá até fevereiro de 2015.
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Corpo e tradição na capoeira em
debate no segundo dia do evento por Artur Ferraz
(*Estudante de
Jornalismo na UFPE e membro da empresa júnior Veneza Comunicação).
A
semana de Capoeira no CAC começou o segundo dia fora do Centro de Artes. Dando
sequência à programação, que acontecia desde o dia anterior, os professores
Zoinho (Everaldo Ferreira) e Tchê (Henrique Kohl) promoveram um debate,
conduzido pela professora Gabriela Santana, no auditório Prof. Jorge Lobo, no
Centro de Ciências da Saúde (CCS), na terça-feira 15, das 14h às 15h30. Sobre o
tema Corpo, tradição e capoeira, os
professores discutiram a relação do corpo com as tradições envolvidas nas rodas
de capoeira.
O debate sobre a tradição da
capoeira destacou-se por trazer à tona diferentes pontos de vista sobre à
questão, apresentados pelos condutores do debate e também pelo público que o
assistia. O professor Zoinho, afirmou que a tradição deve ser respeitada, mas
que também deve saber respeitar o que esta chegando, já Tchê, reiterou a
incontestável importância da tradição, e afirmou que a aceitação de novas
tradições deve dar-se de acordo com a demanda por adaptações. Afirmou ainda que
as adaptações não são transformações, nem muito menos deturpações, apenas
ressignificação de alguns pontos questionáveis. O professor Tchê também ressaltou a
importância da crise na capoeira. A crise possibilita o surgimento de novas perguntas
a antigos problemas, uma releitura dos problemas.
Quando
questionado sobre as relações entre o corpo e a mente durante a roda, o
professor Zoinho afirmou que nem sempre o impulso do capoeirista pode ser
realizado. “Às vezes o corpo tem vontade de fazer algo, mas a mente mostra que
o corpo não deve fazer aquilo. Esta é a ligação entre o corpo e a mente, e nem
sempre um obedece ao outro”, explicou
Por
fim, após o coffee-break, às 16h, foi exibido Artes da Capoeira, documentário dirigido por Josias Neto Pires, da
TVE Bahia. Dividido em três partes, o vídeo debate a capoeira como música,
dança e religião, mostrando diálogos entre pessoas ligadas tanto à capoeira
quanto ao meio acadêmico baianos, como Mestre João Grande, o historiador Jaime
Sodré, a professora de dança Lia Robatto e o Mestre Moraes.
O segundo dia do evento contou com a
presença de nomes como Joab (Grupo Pernamocambo), Jorge (Projeto Capoeira
Angola Estudos e Práticas), Bel Cordeiro (Centro de Capoeira São Salomão), Eduardo
(Baygon) (Acanne), Marcelo Guerra (Herança de Agola) e Efraim Santos e Sauba
Berg (São Bento Pequeno).
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Educação na capoeira marca o
terceiro dia de palestras
por Marcela Falcão (Comunicação Veneza)
O
terceiro dia do ciclo de palestras do projeto capoeira no CAC ocorreu no Centro
de Educação e tratou exatamente da questão da educação na capoeira. Com uma
mesa de debates composta pelos professores Bruno Santana e Contramestra Bel e mediada
pela professora Gabriela Santana, o debate fluiu com muito entusiasmo e
naturalidade, contando com uma plateia recheada de interessados no assunto.
Contramestra
do Centro de Capoeira São Salomão, a professora Bel Cordeiro afirmou que foi a
partir da relação com a educação física, que a capoeira foi se escolarizando.
Mostrou que os saberes da capoeira são transmitidos na maioria das vezes,
apoiados na oralidade, na relação de parceria entre Mestres e discípulos, uma
relação de confiança mútua. Para exemplificar a relação entre capoeira e
educação, a Contramestra mostrou o Projeto Caxinguelês, que oferece à jovens de
6 a 18 anos, uma gama de atividades que giram em torno da parceria família,
capoeira e escola. Dentre as atividades oferecidas pelo projeto, pode-se
destacar as reuniões pedagógicas e as culminâncias, os atendimentos
psicológicos e as aulas e rodas de capoeira. O projeto também integra os
estudantes e capoeiristas à comunidade, e torna-os cidadãos ativos e
participativos, e também forma profissionais multiplicadores do projeto.
Já
o professor Bruno, membro do grupo de capoeira Chapéu de Couro, teve sua fala
baseada na dificuldade e no abismo existente entre a capoeira e o conhecimento
sistematicamente organizado, encontrado nas universidades. Contou que existe
uma grande resistência em reconhecer os saberes da capoeira, mas afirmou que
ela, a capoeira já forma um processo de conhecimento, pois, todo processo de
conhecimento é coletivo, e um dos maiores pilares da capoeira é a coletividade,
sendo assim, a escola não é o único lugar de educação cultural. De acordo com
Bruno, a capoeira só dará um salto maior, quando seus próprios agentes se
reconhecerem como intelectuais
maloqueiros, conceito por ele criado, e que se refere ao profissional que
produz sua subsistência na capoeira. O debate terminou com uma ladainha do
Mestre Mão Branca, apresentada pelo professor Bruno
Após o coffee-break, foi apresentado o filme: “Versos e Cacetes” do
Professor Doutor Matthias Assunção. O filme documenta
o jogo do pau e sua inserção na cultura afro-fluminense do Vale do Paraíba. O terceiro ciclo de palestras contou ainda
com a presença do Mestre Curisco, Mestre Branco, Mestre Mago, e Professores
Zoinho e Caíca.
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Ciclo de Palestras da Capoeira na
UFPE termina com discussão sobre a história da capoeira no Brasil por Artur Ferraz (Estudante de Jornalismo na UFPE e membro da empresa júnior Veneza Comunicação)
Tendo
como tema Histórias e estórias da
capoeira, o capoeirista, historiador e professor do Grupo Herança de
Angola, Olinda - PE, Sergio Senna (Caíca) e a psicopedagoga, mestranda em
Educação e capoeirista Monica Beltrão fizeram uma análise histórica da capoeira
no Brasil e em Pernambuco, comentando fatos encontrados em documentos oficiais
e matérias de jornais do século XVIII até os dias atuais. A discussão e a
exibição de um documentário marcaram o último dia da Semana de Capoeira no CAC,
encerrada na quinta-feira 17, no auditório principal do Centro de Filosofia e
Ciências Humanas (CFCH) da UFPE. A professora Gabriela Santana conduziu a
programação.
Primeiro
a falar, o professor Caíca se apresentou relembrando a própria vivência
acadêmica quando ainda era estudante da graduação. “Era estudante de história e
sentia muita tristeza por não estudar a capoeira na universidade”, contou.
Também destacou a importância da prática capoeirística na sua formação
científica. “Praticando capoeira antes de estudar história, tive muita
aprendizagem empírica; já sabia que a capoeira nasceu como ânsia e luta dos
escravos pela liberdade”, disse. Ainda lembrou as perseguições sofridas pelos
capoeiristas ao longo da história do Brasil e o preconceito e a discriminação
que sofrem ainda hoje. “É uma ingratidão com o povo que ajudou a construir este
país”, defendeu.
Ao
fim da fala do professor, foi a vez de Monica Beltrão. A capoeirista falou da
pesquisa que fez e deu origem a dois livros, A capoeiragem no Recife Antigo – os valentes de outrora e A capoeira dos leões do norte – a herança de
Pernambuco. Numa apresentação de slides, mostrou imagens de textos
publicados em jornais nos séculos XIX e XX para tratar da perseguição política
e ideológica por que passaram os grupos de capoeira no Recife durante esse
período. “Foi colocado de forma oligárquica e preconceituosa que os
capoeiristas eram violentos, tendo sido chamados de ‘guerrilheiros urbanos’”,
afirmou. Além disso, ressaltou a capoeira como instituição social de construção
de identidades. “Houve uma negação de identidade quando estigmatizaram os
capoeiristas como ‘vagabundos’, ‘desordeiros’. Se a gente negar nossa relação
com a matriz africana, a gente está negando a capoeira”, completou.
Por
último, encerrando as atividades da Semana, foi discutido o projeto Raízes Angolanas pelo capoeirista,
historiador e professor da Universidade de Essex, no Reino Unido, Matthias
Assunção. Pesquisa esta, desenvolvida por ele sobre a relação da corporalidade
nas manifestações culturais africanas com a capoeira.