sexta-feira, 6 de junho de 2014

ANO II - novo formato

INFORMATIVO

Recife, 06 de junho de 2014.

Como já apresentado a comunidade capoeirista, estamos no segundo ano do projeto de extensão CAPOEIRA NO CAC, nos permitindo avaliar nossas conquistas e também, projetar novas expectativas.

Assumimos riscos e reconhecemos limitações e, por essas razões, esclarecemos que o projeto passa por readequamento para sustentar suas atividades. A partir de agora, diminuiremos nossos encontros que não acontecerão mais uma vez ao mês e sim, a cada dois meses. Dessa forma, mesmo readequando o orçamento para a continuidade de nossas atividades, encontramos ainda caminhos para aprofundar nossas ações, pois no mês que não teremos o encontro no CAC - roda e aula aberta - estaremos trabalhando para a produção de um videopesquisa com os mestres, professores e contramestres colaboradores.

Reforçamos ainda que nossos encontros acontecem quinzenalmente e para quem quiser participar das ações, (conversas, discussões, leituras e práticas) é só entrar em contato e aparecer.

Continuemos no diálogo, 

Gabriela Santana (Profa. coordenadora do projeto Capoeira no CAC)

...em julho, capoeiragem garantida!

Matérias sobre o Ciclo de Palestras

Para quem não apareceu e para quem quer relembrar, segue a cobertura do evento.

 
(Adolfo Santos Sonteria)

Ciclo de palestras marca culminância do primeiro ano do projeto Capoeira no CAC 
por Jaqueline Fraga

Entre os dias 14 e 17 de outubro, o projeto de extensão da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), “Capoeira no CAC”, realizou o Ciclo de Palestras da Capoeira, evento que marcou o encerramento das ações desenvolvidas durante os 10 meses de atividade.

De julho de 2013 a abril de 2014, a professora Gabriela Santana, coordenadora do projeto, organizou mensalmente, e em conjunto com a equipe de discentes envolvidos na atividade de extensão, rodas de capoeira Angola e debates com mestres e professores atuantes nas cidades de Recife e Olinda.

A ação de culminância, segundo a professora, é uma oportunidade de promover o levantamento de estudos e pesquisas que privilegiam a capoeira como importante fonte de conhecimento. “Durante os debates, foi possível discutir, de modo mais amplo, o desenvolvimento e os aspectos artísticos, educativos, políticos, sociais e históricos da capoeira pernambucana”, destacou.

Para a abertura do evento, foi promovida uma roda de capoeira no hall do Centro de Artes e Comunicação (CAC) da UFPE, que contou com a participação dos mestres: Júnior (Grupo de Capoeira Nação Recife- PE), Mago (Centro de Capoeira São Salomão- PE) e Joab (Grupo Mocambo -PE) e dos professores Zoinho – Everaldo Ferreira (Centro Esportivo de Capoeira Angola – Academia de João Pequeno de Pastinha/BA) e Caica (Herança de Angola- PE), além de capoeiristas experientes e de diversos grupos que ali estavam para celebrar o evento.

Autoridades no universo da capoeira, os mestres e professores elogiaram a iniciativa do projeto Capoeira no CAC. “A professora Gabriela está desenvolvendo um trabalho sério, que vem contribuir para a capoeiragem. Estou aqui para ensinar e aprender”, ressaltou o professor Zoinho, que está na capoeira há aproximadamente 26 anos. O professor falou, ainda, sobre a interação com ambiente universitário: “A capoeira não está saindo do povo. Esse projeto vem para unir, sem descaracterizar”.

O mestre Júnior, que possui 35 anos na arte da capoeira partilha do mesmo pensamento. “É uma iniciativa ímpar. Está imbuída nas raízes e vem somar, trazendo o novo. Que bom que existem pessoas com esse pensamento”, avaliou.

A avaliação também é positiva pelos alunos da Universidade. Estudante de Geografia, Pedro João, de 26 anos, considera valiosa a promoção dessa atividade de extensão. “Acho bacana chegar aos centros e presenciar esses eventos”, contou.
Após a roda de abertura, foi realizada a palestra “Arte na Capoeira”, ministrada pelo pelo Coreógrafo e professor da Compassos Cia de Dança, Raimundo Branco, também reconhecido pela comunidade capoeirística como Mestre Branco de Aruanda.  

No segundo dia, foi realizado, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), o debate “O corpo, a tradição e a Capoeira”, que teve como debatedores o professor Zoinho e professor Dr. da UFPE, Henrique Khol. Além disso, houve a exibição do documentário “Artes da capoeira”, dirigido por Josias Neto. 
O terceiro dia do evento foi marcado por debates que envolviam a concepção da capoeira em ambientes educacionais formais e informais, como escolas e universidades, e também sua influência na educação de crianças e jovens que participam de grupos e projetos que tem a capoeira como atividade principal. 

Durantes a palestra “A Educação na Capoeira”, ministrada no Centro de Educação (CE), a contramestra Bel Cordeiro e o professor Bruno Santana apresentaram suas experiências como acadêmicos e capoeiristas. Ao final, foi exibido o filme “Versos e Cacetes” com direção e roteiro do professor Matthias Assunção (University of Essex), que esteve presente no evento, e de Hebe Mattos.

Dois capoeiristas que estiveram presentes todos os dias do evento destacaram a relevância do Ciclo de Palestras. Lindinaldo do Espírito Santo, 34, ressaltou que é importante essa promoção de diálogos: “O debate é bom porque vai sendo transmitido para um número maior de capoeirista”, disse. A junção da universidade com a capoeira foi elogiada por Fábio Soares, 37. “Essa mistura é necessária. Tem que abrir cada vez mais as portas da universidade”, avaliou.     

Encerrando o Ciclo de Palestras da Capoeira, foi promovido na quinta-feira (17), o debate “Histórias e Estórias da Capoeira”, com o professor Caica e Mônica Beltrão, e discutida a pesquisa “Raízes Angolanas da Capoeira”, realizada no sul da África, pelo professor Matthias Assunção. O encerramento aconteceu no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH).


Em maio deste ano e com o apoio da Pró-reitoria de Extensão, tem início a segunda edição do projeto Capoeira no CAC, que seguirá até fevereiro de 2015.  
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   Corpo e tradição na capoeira em debate no segundo dia do evento por Artur Ferraz  
                                            (*Estudante de Jornalismo na UFPE e membro da empresa júnior Veneza Comunicação).

A semana de Capoeira no CAC começou o segundo dia fora do Centro de Artes. Dando sequência à programação, que acontecia desde o dia anterior, os professores Zoinho (Everaldo Ferreira) e Tchê (Henrique Kohl) promoveram um debate, conduzido pela professora Gabriela Santana, no auditório Prof. Jorge Lobo, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), na terça-feira 15, das 14h às 15h30. Sobre o tema Corpo, tradição e capoeira, os professores discutiram a relação do corpo com as tradições envolvidas nas rodas de capoeira.
            
O debate sobre a tradição da capoeira destacou-se por trazer à tona diferentes pontos de vista sobre à questão, apresentados pelos condutores do debate e também pelo público que o assistia. O professor Zoinho, afirmou que a tradição deve ser respeitada, mas que também deve saber respeitar o que esta chegando, já Tchê, reiterou a incontestável importância da tradição, e afirmou que a aceitação de novas tradições deve dar-se de acordo com a demanda por adaptações. Afirmou ainda que as adaptações não são transformações, nem muito menos deturpações, apenas ressignificação de alguns pontos questionáveis. O professor Tchê também ressaltou a importância da crise na capoeira. A crise possibilita o surgimento de novas perguntas a antigos problemas, uma releitura dos problemas.

Quando questionado sobre as relações entre o corpo e a mente durante a roda, o professor Zoinho afirmou que nem sempre o impulso do capoeirista pode ser realizado. “Às vezes o corpo tem vontade de fazer algo, mas a mente mostra que o corpo não deve fazer aquilo. Esta é a ligação entre o corpo e a mente, e nem sempre um obedece ao outro”, explicou

Por fim, após o coffee-break, às 16h, foi exibido Artes da Capoeira, documentário dirigido por Josias Neto Pires, da TVE Bahia. Dividido em três partes, o vídeo debate a capoeira como música, dança e religião, mostrando diálogos entre pessoas ligadas tanto à capoeira quanto ao meio acadêmico baianos, como Mestre João Grande, o historiador Jaime Sodré, a professora de dança Lia Robatto e o Mestre  Moraes.

O segundo dia do evento contou com a presença de nomes como Joab (Grupo Pernamocambo), Jorge (Projeto Capoeira Angola Estudos e Práticas), Bel Cordeiro (Centro de Capoeira São Salomão), Eduardo (Baygon) (Acanne), Marcelo Guerra (Herança de Agola) e Efraim Santos e Sauba Berg (São Bento Pequeno).

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Educação na capoeira marca o terceiro dia de palestras
 por Marcela Falcão (Comunicação Veneza)

O terceiro dia do ciclo de palestras do projeto capoeira no CAC ocorreu no Centro de Educação e tratou exatamente da questão da educação na capoeira. Com uma mesa de debates composta pelos professores Bruno Santana e Contramestra Bel e mediada pela professora Gabriela Santana, o debate fluiu com muito entusiasmo e naturalidade, contando com uma plateia recheada de interessados no assunto.

Contramestra do Centro de Capoeira São Salomão, a professora Bel Cordeiro afirmou que foi a partir da relação com a educação física, que a capoeira foi se escolarizando. Mostrou que os saberes da capoeira são transmitidos na maioria das vezes, apoiados na oralidade, na relação de parceria entre Mestres e discípulos, uma relação de confiança mútua. Para exemplificar a relação entre capoeira e educação, a Contramestra mostrou o Projeto Caxinguelês, que oferece à jovens de 6 a 18 anos, uma gama de atividades que giram em torno da parceria família, capoeira e escola. Dentre as atividades oferecidas pelo projeto, pode-se destacar as reuniões pedagógicas e as culminâncias, os atendimentos psicológicos e as aulas e rodas de capoeira. O projeto também integra os estudantes e capoeiristas à comunidade, e torna-os cidadãos ativos e participativos, e também forma profissionais multiplicadores do projeto.

Já o professor Bruno, membro do grupo de capoeira Chapéu de Couro, teve sua fala baseada na dificuldade e no abismo existente entre a capoeira e o conhecimento sistematicamente organizado, encontrado nas universidades. Contou que existe uma grande resistência em reconhecer os saberes da capoeira, mas afirmou que ela, a capoeira já forma um processo de conhecimento, pois, todo processo de conhecimento é coletivo, e um dos maiores pilares da capoeira é a coletividade, sendo assim, a escola não é o único lugar de educação cultural. De acordo com Bruno, a capoeira só dará um salto maior, quando seus próprios agentes se reconhecerem como intelectuais maloqueiros, conceito por ele criado, e que se refere ao profissional que produz sua subsistência na capoeira. O debate terminou com uma ladainha do Mestre Mão Branca, apresentada pelo professor Bruno

Após o coffee-break, foi apresentado o filme: “Versos e Cacetes” do Professor Doutor Matthias Assunção. O filme documenta o jogo do pau e sua inserção na cultura afro-fluminense do Vale do Paraíba. O terceiro ciclo de palestras contou ainda com a presença do Mestre Curisco, Mestre Branco, Mestre Mago, e Professores Zoinho e Caíca.

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Ciclo de Palestras da Capoeira na UFPE termina com discussão sobre a história da capoeira no Brasil por Artur Ferraz (Estudante de Jornalismo na UFPE e membro da empresa júnior Veneza Comunicação)

Tendo como tema Histórias e estórias da capoeira, o capoeirista, historiador e professor do Grupo Herança de Angola, Olinda - PE, Sergio Senna (Caíca) e a psicopedagoga, mestranda em Educação e capoeirista Monica Beltrão fizeram uma análise histórica da capoeira no Brasil e em Pernambuco, comentando fatos encontrados em documentos oficiais e matérias de jornais do século XVIII até os dias atuais. A discussão e a exibição de um documentário marcaram o último dia da Semana de Capoeira no CAC, encerrada na quinta-feira 17, no auditório principal do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFPE. A professora Gabriela Santana conduziu a programação.

Primeiro a falar, o professor Caíca se apresentou relembrando a própria vivência acadêmica quando ainda era estudante da graduação. “Era estudante de história e sentia muita tristeza por não estudar a capoeira na universidade”, contou. Também destacou a importância da prática capoeirística na sua formação científica. “Praticando capoeira antes de estudar história, tive muita aprendizagem empírica; já sabia que a capoeira nasceu como ânsia e luta dos escravos pela liberdade”, disse. Ainda lembrou as perseguições sofridas pelos capoeiristas ao longo da história do Brasil e o preconceito e a discriminação que sofrem ainda hoje. “É uma ingratidão com o povo que ajudou a construir este país”, defendeu.

Ao fim da fala do professor, foi a vez de Monica Beltrão. A capoeirista falou da pesquisa que fez e deu origem a dois livros, A capoeiragem no Recife Antigo – os valentes de outrora e A capoeira dos leões do norte – a herança de Pernambuco. Numa apresentação de slides, mostrou imagens de textos publicados em jornais nos séculos XIX e XX para tratar da perseguição política e ideológica por que passaram os grupos de capoeira no Recife durante esse período. “Foi colocado de forma oligárquica e preconceituosa que os capoeiristas eram violentos, tendo sido chamados de ‘guerrilheiros urbanos’”, afirmou. Além disso, ressaltou a capoeira como instituição social de construção de identidades. “Houve uma negação de identidade quando estigmatizaram os capoeiristas como ‘vagabundos’, ‘desordeiros’. Se a gente negar nossa relação com a matriz africana, a gente está negando a capoeira”, completou.

Por último, encerrando as atividades da Semana, foi discutido o projeto Raízes Angolanas pelo capoeirista, historiador e professor da Universidade de Essex, no Reino Unido, Matthias Assunção. Pesquisa esta, desenvolvida por ele sobre a relação da corporalidade nas manifestações culturais africanas com a capoeira.